Sempre que paramos para pensar sobre qual a invenção mais importante para a humanidade, logo nos vem à mente instrumentos mais substanciais, como a roda ou o raio-X. Mas existe algo que, de tão primitivo e natural, esquecemos que também precisou ser “descoberto” por alguém: o fogo.
Além de manter o homem aquecido em locais frios e ajudar no preparo de alimentos, o uso da chama incandescente também representou um salto gigantesco para a civilização ao vencer a escuridão durante a noite.
Hoje, a nossa demanda por uma rotina cada vez mais ativa mesmo depois do pôr do sol faz da luz artificial uma necessidade básica para a sobrevivência, ao mesmo tempo em que perturba o nosso relógio biológico e até traz doenças. Continue acompanhando esta matéria do Tecmundo e descubra como os novos avanços e a tecnologia LED podem reverter esse quadro e transformar a luz artificial em uma aliada para nossa saúde.
Alterando a ordem natural
Desde a invenção da lâmpada no início do século XX, houve pouca mudança sobre o modo como usamos a tecnologia para estendermos nossas atividades através da noite. Enquanto a presença da luz artificial não mostra sinais de frear, pesquisas mostram que os efeitos colaterais de se ter substitutos para o Sol são mais maléficos do que pensávamos.
Além de nos permitir ver o mundo, as variações dos raios solares ao longo do dia ativam hormônios específicos em nosso corpo que nos deixam mais ativos, calmos e até sonolentos. Substitua isso por uma sala fechada e um tubo brilhante que emana a mesma cor durante o dia todo, e o resultado certamente vai ser um metabolismo alterado.
Segundo uma pesquisa publicada por Steven Lockley, da universidade de medicina de Harvard, receptores fotossensitivos específicos nos nossos olhos identificam as variações no espectro de cores da luz para ajustar o nosso ciclo de acordar e dormir e nos deixar sincronizados com as 24 horas do dia.
De acordo com Steven, esses receptores são especialmente sensitivos às luzes azuis, que aparecem em maior intensidade com a luz do sol do meio dia. Perceber a luz azul faz o nosso cérebro suprimir a produção da melatonina, o hormônio que nos faz sentir sono.
Os raios mais amenos e com aspecto avermelhado do fim do dia fazem a produção desse hormônio voltar e nos deixa mais preparados para o sono da noite, enquanto o amarelado do amanhecer nos traz o sentimento de despertar. Sendo assim, o feixe emitido por lâmpadas fluorescentes e até pelos modernos bulbos de LED são um dos principais causadores das noites ruins de sono enfrentadas pela sociedade moderna, já que emitem a cor azul em abundância.
E os problemas com o distúrbio dos hormônios do sono não param por aí. Pesquisas mostram que a supressão constante da melatonina pode nos deixar mais vulneráveis a doenças cardiovasculares, obesidade, problemas gastronômicos e até ao câncer.
Se por um lado a alta eficiência das lâmpadas de LED e fluorescentes nos ajudaram com nossos problemas de energia, por outro, a natureza dos seus feixes de luz que não imitam mais o fogo acabaram deixando nossa saúde ainda mais prejudicada. Mas nem tudo está perdido. Se depender das ideias propostas por pesquisadores do instituto Rensselaer, de Nova York, nossa relação com a luz artificial pode ser tornar muito mais benéfica no futuro.
Luzes que nos ajudam
Em vez de lutar contra os efeitos que a luz artificial causa em nosso corpo, nós podemos tirar proveito disso. Essa é a ideia proposta por Mariana Figueiro, do Centro de Pesquisas de Iluminação do instituto. Segundo ela, o diodo emissor de luz pode permitir que sejam usados recursos que eram inimagináveis na época da invenção da primeira lâmpada.
Um deles seria substituir o feixe branco único e constante das lâmpadas de LED tradicionais por três emissores com as cores verde, vermelho e azul (RGB). A combinação dessas três cores em diferentes intensidades pode produzir todas as tonalidades perceptivas ao olho.
Assim, seria possível simular as diferentes cores que a luz natural do sol produz durante o dia, com um amarelado que poderia nos ajudar a ficar mais despertos no começo da manhã, um azul que eleva o ritmo ao máximo no meio do dia e com mesmo avermelhado ao entardecer.
Essa medida não só nos ajudaria a ficarmos mais produtivos no trabalho, mas também poderia ser considerada uma boa forma na prevenção de doenças graças ao melhor aproveitamento na produção de hormônios.
A tecnologia das “lâmpadas LED inteligentes” já está em desenvolvimento, mas ainda pode levar um ou dois anos antes que possamos tê-las em nossas casas. Por outro lado, os astronautas que habitam a Estação Espacial Internacional são candidatos a aproveitar este recurso primeiro.
Com um pôr do sol acontecendo a cada 90 minutos para quem está na órbita terrestre, a sincronia do relógio biológico desses trabalhadores espaciais com certeza fica fora de ordem. Considerando o fato de não haver margem para erro neste ambiente tão hostil, uma forma a mais de elevar o ânimo e a disposição dos astronautas com certeza pode vir bem a calhar.
A natureza agradece
E não são só os humanos que podem ser beneficiar com estes novos recursos do LED, mas os animais também. A grande concentração de luzes artificiais em locais em que grandes centros urbanos estão perto do mar, como no Havaí, faz com que tartarugas marinhas recém-nascidas confundam as luzes da cidade com o reflexo da lua nas ondas da praia, fazendo-as se perderem e morrerem logo nos primeiros minutos de vida.
Situações parecidas também acontecem com outros animais em todo o mundo, e as lâmpadas de LED poderiam ser uma boa forma de amenizar o problema. É provável que o alto custo de produção desta nova tecnologia a torne impraticável nos primeiros momentos, mas os benefícios que o LED inteligente traz podem justificar a sua adoção em um futuro próximo, principalmente por grandes empresas.